domingo, 1 de maio de 2011

Inclusão?

A palavra inclusão se encontra muito em evidência hoje em dia, algumas vezes, dentro de um esforço real de estender a todos os cidadãos as mesmas oportunidades dentro de uma sociedade capitalista na qual o capital, os bens e consequentemente as oportunidades são distribuídas de maneira incrivelmente desigual, outras vezes apenas como discurso vago de burocratas e demagogos pertencentes à pequena elite que percebeu a importância da utilização desta palavra para se manter no poder. Na educação pública por exemplo, a palavra inclusão está presente nos PCNs e é apregoada e repetida por todos, com ênfase e orgulho, porém, não é necessário perceber que as salas de aula, que deveriam comportar no máximo 26 alunos, iniciam as atividades escolares com 41ou 42 e que o professor, dentro de suas atividades diárias não tem condições de dar a atenção especial que este aluno especial necessita e sabemos também que a esmagadora maioria das escolas não mantém um psicopedagogo ou profissional capacitado para realizar um acompanhamento adequado deste aluno. Na prática, dentro da educação pública, toda a beleza do discurso da inclusão acaba se efetivando em exclusão, pois não há investimentos adequados e o aluno acaba ficando abandonado à própria sorte.
A própria palavra inclusão só pode ser usada em um contexto onde a exclusão existe, ou então não seria necessária. É difícil para nós saber que há pessoas que não têm o básico para viver, como energia elétrica, aparelho refrigerador ou comida todos os dias. Não dispõe da mesma oportunidade de receber educação formal, e quando esta é  oferecida pelas escolas públicas, que primam pela quantidade de vagas oferecidas e pecam pela qualidade do ensino, seus alunos são fatalmente relegados a uma educação deficiente que os excluem totalmente de um processo seletivo no qual disputam vagas com alunos oriundos de colégios particulares, onde os discursos são menos calorosos e os resultados são mais evidentes.
Dentro do processo de inclusão digital a visão não é diferente. Há investimentos pesados visando contribuir para que todos os brasileiros consigam computadores e internet, assim como outros equipamentos eletrônicos. A necessidade de saber manusear estes aparelhos e lidar com as novas tecnologias se faz presente a cada dia. O número de pessoas que utilizam aparelhos celulares ultrapassou os 200 milhões no Brasil, não apenas pelo uso relacionado à tecnologia, mas também pelos recursos atrativos que os aparelhos oferecem, como câmera fotográfica, mp3 e mp4 players, armazenamento de dados, acesso à internet e etc. O problema gerado por tudo isso é conseguir aliar a qualidade dos recursos disponíveis a preços cada vez mais acessíveis a um processo educacional efetivo. Por um lado, podemos acompanhar a contribuição dada por pessoas, testemunhas oculares de fatos e notícas que cedem as imagens produzidas por elas para jornais de tv e internet, compartilhando a informação de maneira cada vez mais impessoal e livre dos interesses da minoria dominante por trás da tv, por outro lado, foi necessário que o governo instituísse uma lei federal proibindo o uso de aparelhos celulares nas escolas. É absurdo que a escola não tenha se adaptado às novas tecnologias musicais e que não consiga utilizá-las a seu favor, pois esbarra não só na capacitação dos profissionais que lá trabalham, mas também na escassez de recursos e estrutura de que dispõe, mas mais absurdo ainda é esta escola e os poucos recursos que mantém, tentar levar um conhecimento a um aluno e tentar envolvê-lo em um processo de ensino-aprendizagem enquanto ele, em desprezo à importância deste ato, prefere falar ao telefone com seus amigos, jogar, ouvir música, etc. Diga-se de passagem, no Japão é considerado falta de educação atender ligações no metrô ou em qualquer espaço público.
Conclui-se que não basta apenas investir em inclusão digital como pretexto para elaboração de um marketing pessoal e partidário espetacular. Para que as pessoas façam um bom uso das tecnologias digitais disponíveis, é necessário que se invista de maneira consistente em educação e então todas as ferramentas acessíveis hoje aos brasileiros serão utilizadas com mais objetividade e a informação possa assim constituir-se em efetivo aprendizado.

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