segunda-feira, 6 de junho de 2011

Envelhecendo com Dignidade!

Na décima primeira edição de Feira do Livro de Ribeirão Preto, tive o privilégio de me aproximar e uma figura que já persigo há muito tempo nos programas da Rede Cultura e mesmo na MTV, o cantor, compositor, multi-instrumentista e agora escritor Lobão. 

 A presença do músico no Salão de Ideias deu-se em função do lançamento de seu sua biografia "50 anos a Mil", que será transformada em roteiro e o próprio Lobão cuidará da parte musical. Comentários sobre o recente filme de Cazuza, grande amigo de Lobão não faltaram, Lobão, que sequer foi citado no filme (assim como Ney Matogrosso e outras figuras muito importantes na vida de Cazuza), classificou-o como um filmezinho "a la malhação".

Suas críticas ácidas sobre a cena musical no Brasil, a indústria fonográfica e o já famigerado conceito modista sobre o politicamente correto sempre me agradaram muito e as ideias apresentadas por ele no auditório Meira Júnior do teatro Pedro II fizeram justiça a sua personalidade crítica e autêntica de um artista que recusou se vender.
Dentre seus comentários, sempre polêmicos, destaco com muita satisfação o que disse sobre o poder que a música de um povo tem, podendo salvá-lo ou destrui-lo e após este comentário, citou tendências que dominam a grande mídia, como o "agrobrega", que não tem nenhum poder de conscientização e não perturba a grande mídia e nem a classe política e só pode agradar ao público "minhóquico" e "rebolativo", infelizmente composto por boa parte do público brasileiro. Como entregar sua cabeça a um psiquiatra que ouviu este tipo de música a vida inteira? Este é um dos questionamentos de Lobão, que comentou também a estratégia em promover movimentos musicais de baixa qualidade adicionando o termo universitário ao seu nome: forró universitário, sertanejo universitário, etc. Será que o nível universitário caiu tanto assim? É bem provável que sim. Enfim, em entrevista ao Ribeirão Online, Lobão afirmou que apesar do show ser aberto, não esperava o público agrobrega em seu show e disse que prefere os fãs pela sua qualidade e não pela quantidade.

O comentário que mais me impressionou foi sobre o Rock Brasileiro dos anos 1980, época em que Lobão alcançou grande expressão na mídia junto a outros artistas. Lobão afirmou que os anos 80 fracassaram, e seu argumento, sempre convincente foi que a maioria dos artistas fazia tudo o que se fazia lá fora, com os mesmos trejeitos, mesmos timbres, mesmas letras... tudo cópia! A falta de originalidade fez com que essa geração falhasse, além disso, comentou que hoje temos artistas independentes muito melhores, mas que não têm espaço na mídia dominada por tanto lixo!

Durante seu show, no dia seguinte (31/05), Lobão foi divertido e muito simpático. Com uma banda excepcional apresentou um espetáculo com músicas de toda a sua carreira, inclusive os clássicos. A apresentação foi "tratorizante", assim como havia prometido. O peso e a energia dos arranjos, letras e músicas provaram que Lobão está envelhecendo com dignidade, fenômeno partilhado por poucos que passaram dos 50. 

Espero que o retorno de Lobão a Ribeirão Preto seja breve e que traga consigo novamente sua polêmica, sua energia e seus neologismos!


domingo, 22 de maio de 2011

Educadores, angústias, mídia e mérito

Esta semana ficamos impressionados com a repercussão do vídeo da professora Amanda Gurgel que sintetizou muito bem em pouquíssimas palavras tudo o que sente e o que sofre o educador brasileiro.A professora apenas iniciou sua fala mencionando nosso salário, que realmente não é bom, mas mencionou muitas coisas sobre a situação geral da educação, inclusive algo que considero a palavras-chave de todo o seu texto "em nenhum momento em nosso país a educação foi uma prioridade".

Sinto-me feliz por perceber que as pessoas não dependem mais da grande mídia televisiva para formar suas opiniões sobre assuntos tão importantes como a educação de seu povo! E a grande mídia, que trabalha conforme os interesses de grandes empresários e de determinados partidos políticos, agora é refém. Estava eu assistindo ao jogo Corínthians e Grêmio pelo campeonato brasileiro (tv aberta, pois não consigo pagar uma assinatura... sou professor), minha parcela do panis et circences e ouvi o anúncio de que a professora Amanda Gurgel estaria no programa do Faustão logo após o jogo. Assisti todo o programa (foi difícil!) mas infelizmente não consegui ver a reportagem com a professora! O fantástico ignorou a repercussão do vídeo e não incluiu seu conteúdo entre as suas manchetes, mas sim um vídeo muito menos acessado, sobre duas garotas que se afogaram.

O caso é que, as perdas salariais dos professores no estado de São Paulo, o mais rico da federação, chegam a quase 40%, o velho/novo governo PSDB, principal responsável pelas péssimas condições no ensino da rede pública estadual oferece algo próximo a dez por cento de aumento real para julho deste ano. Repetindo a fala da professora: "nossas necessidades são imediatas!"


A grande mídia, repetindo o discurso do governo realizou grandes manipulações que acompanhei durante os oito anos em que estou no magistério, entre esconder da população manifestações que levavam setenta mil professores à Avenida Paulista, até o maior absurdo de todos, organizando no governo Serra programas de promoção por mérito totalmente mal estruturados e transformando em lei a quebra de isonomia na nossa categoria.

O pior de tudo é que durante muitos anos, este complô entre mídia e governo transformaram em vilões os pobres professores e jogou a população contra nós, dificultando ainda mais nosso trabalho tão importante e tão desprezado! Sinto-me feliz pela população buscar informação fora dela, que deve ceder à pressão e publicar o que acontece realmente.

Manifestando minha indignação, ganho hoje no estado muito menos do que ganhava há cinco anos na prefeitura de minha cidade pela mesma quantidade de aulas e não posso participar da "prova de mérito" por ser efetivo na rede "apenas" desde janeiro de 2008! Detalhe, já fiz a prova ano passado e fiquei muito acima da média.

Que mérito é este?

Edgar Oliveira

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Poluição Sonora

Inicio minha postagem com uma conclusão de Murray Shaffer: "Se há um problema de poluição sonora no mundo de hoje, isso se deve, com certeza, parcialmente e talvez mesmo extensamente, ao fato de os educadores musicais não terem conseguido dar ao público uma educação total no que se refere a consciência de paisagem sonora(...)".

Considero que se Shaffer estava certo, com um programa de educação musical adequado, este problema (que evidentemente existe hoje na sociedade) tende a ser sanado, embora com muito esforço e conscientização e daqui a muitíssimos anos! Vamos porém aos contras:

  1. A maioria da população tem que recorrer à escola pública, que é totalmente perdida na organização de seu currículo, sem saber se prioriza o que é importante para o vestibular, o mercado de trabalho ou para a comunidade onde está inserida. Não acredito que esta escola oferecerá a educação musical de que Shaffer falava.
  2. Não existe o exemplo. Assim como as grandes empresas, que deveriam ter maior responsabilidades com o meio ambiente são as maiores responsáveis pela poluição do ar, rios, solo, etc, com a poluição sonora não é diferente, na guerra das propagandas acaba vencendo quem faz mais barulho e a fiscalização é tão ineficiente quanto nos outros casos.
  3. Se Shaffer afirma que os educadores de uma época em que a educação remunerava bem falharam, o que esperar dos educadores de hoje, que contam com poucos recursos, mal remunerados, estressados e sem esperança no modelo de escola disponível?

Enquanto isso devemos sofrer calados diante do "dj de ônibus" que obriga todos a ouvirem a música (na maioria das vezes irritante) do seu aparelho celular, ao vizinho "legal" que passa com o volume do som do carro no último volume e nos obriga a aumentar o volume da televisão para ouvirmos o jornal ou até mesmo o vendedor de pamonhas que poderia abaixar um pouquinho o volume do megafone (ou então o preço da doce com queijo, rs)


quarta-feira, 11 de maio de 2011

Tecnologia nas escolas



No que diz respeito a transformar informação em conhecimento, acredito que Lévy está completamente certo e que a alfabetização é a base para tudo! Infelizmente, as nossas escolas e políticas educacionais insistem no erro comentado pelo filósofo Lévy em sua entrevista para o programa Roda Viva: a escola está apenas adquirindo músculos!

O maravilhoso discurso da "educação para todos" acabou resultando em educação sem qualidade para todos e este processo não está perto de se resolver, pois o efetivo conhecimento do aluno é mascarado para a obtenção de números em índices (idesp, ideb, etc), cujas finalidades não são especificamente educacionais. A partir destes interesses, foi implantada a progressão continuada, que apresenta uma proposta interessante e pertinente, mas que as próprias instituições de ensino não conseguem aplicar corretamente por falta de estrutura e investimentos no setor, o que resulta em adolescentes que chegam ao final de um ciclo no seu aprendizado sem habilidades e competências básicas para tal, como por exemplo interpretar um texto simples. Muitas vezes, a escola e o grupo de professores optam por não reter o aluno no ciclo pois já tentaram o possível (sem as estruturas adequadas) e o problema passa a ser outro: aluno muito mais velho em uma sala de alunos menores. A vítima acaba sendo o próprio réu, o aluno!

Não concordo com o discurso atual: para corrigir o problema, aumentam a carga horária do aluno dentro da escola, mais dias letivos, aulas maiores, mais aulas, etc. Vocês já experimentaram ficar uma hora sentados naquela cadeira escolar? É horrível! É impossível estudar mal acomodado desta maneira! E pior, salas abafadas e superlotadas! A escola hoje comete uma violência contra o cidadão que paga seus impostos e manda seus filhos para a instituição. É claro que vocês devem estar se perguntando: como é que nós adorávamos a escola? Sim, nós adorávamos, mas para nós, da "era do Atari", o tempo de permanência na escola era muito menor, menos aulas por dia e menos dias letivos por ano, e aprendíamos muito! Ainda assim, no final da quinta aula, já estávamos exaustos... normalmente, as crianças hoje têm seis aulas e quem é professor sabe o quanto é difícil dar a última aula para qualquer turma.

Não adianta informatizar a escola sem reformular sua estrutura! O jovem hoje é muito mais exigente do que éramos e ele não está errado. Para finalizar, gostaria de fazer uma analogia citando um comentário que um amigo costuma fazer sobre o crescimento das igrejas evangélicas sobre a católica: quando o fiel vai à igreja evangélica, senta em cadeiras anatômicas e confortáveis, bebe água gelada, fica no ar condicionado, o sistema de som é muito bom e ele ouve tudo com nitidez! Resultado: ficou lá por três horas e nem parece! Parece que ficou apenas uma! Já na igreja católica, os bancos são de madeira, a ventilação e o som nem sempre são tão agradáveis... o fiel fica uma hora e parece que ficou três... é só uma analogia, espero não ter sido infeliz no exemplo.

Grande abraço!
Edgar Oliveira
leprechal27@hotmail.com


domingo, 8 de maio de 2011

Sobre inclusão digital e inclusão social

Acredito que o maior desafio hoje é transformar a atual era da informação em era do efetivo conhecimento, uma vez que existem novas mídias, ampliam-se as oportunidades, mas esbarra-se em problemas que já deveriam ter sido vencidos. Espera-se que todo este investimento em inclusão digital não sirva apenas para compensar ou balancear a péssima qualidade do ensino oferecido no sistema público, que devido à políticas educacionais inadequadas despeja para o mercado de trabalho anualmente um exército de "analfabetos funcionais", que são contemporâneos da era da informação, mas que pouco aproveitam disso, sem conseguir extrair um efetivo conhecimento de suas experiências digitais.

A falta de autonomia da maioria dos jovens do ensino médio hoje é deprimente (estou escolhendo muito bem as palavras para não pecar pela netiqueta) e não oferecem resistência alguma ao main stream que a grande mídia impõe, sendo totalmente vulneráveis à toda esta inversão de valores, na qual o sujeito que gosta de estudar e se dá bem com isso é um nerd, e isto é pejorativo! Por outro lado, "o popular" muitas vezes cultua apenas a estética e pouco importa se sabe alguma coisa ou não.

Um exemplo que gostaria de citar ocorreu em uma escola que lecionei em 2008, em que alunos que tinham Orkut perguntavam uns aos outros se eles aviam feito o "add". Isto me espantou porque mesmo estando o comando, ou a opção em inglês, idioma que eles estudam desde a 5ª série do ensino fundamental diga-se de passagem, não conseguiram realizar um paralelo entre o add e sua tradução adicionar, que é tão óbvia!

Antes de haver todo este boom de técnologias digitais, deveríamos estar realmente preparados para elas... penso que na realidade, a lista dos excluídos engloba grande parte dos que possuem computador e internet banda larga...

Dêem uma lida nesta matéria:

Abração!
leprechal27@hotmail.com

texto veiculado no fórum da disciplina de Tecnologias da internet para Educação à Musical, dia 27 de abril de 2011.

domingo, 1 de maio de 2011

Inclusão?

A palavra inclusão se encontra muito em evidência hoje em dia, algumas vezes, dentro de um esforço real de estender a todos os cidadãos as mesmas oportunidades dentro de uma sociedade capitalista na qual o capital, os bens e consequentemente as oportunidades são distribuídas de maneira incrivelmente desigual, outras vezes apenas como discurso vago de burocratas e demagogos pertencentes à pequena elite que percebeu a importância da utilização desta palavra para se manter no poder. Na educação pública por exemplo, a palavra inclusão está presente nos PCNs e é apregoada e repetida por todos, com ênfase e orgulho, porém, não é necessário perceber que as salas de aula, que deveriam comportar no máximo 26 alunos, iniciam as atividades escolares com 41ou 42 e que o professor, dentro de suas atividades diárias não tem condições de dar a atenção especial que este aluno especial necessita e sabemos também que a esmagadora maioria das escolas não mantém um psicopedagogo ou profissional capacitado para realizar um acompanhamento adequado deste aluno. Na prática, dentro da educação pública, toda a beleza do discurso da inclusão acaba se efetivando em exclusão, pois não há investimentos adequados e o aluno acaba ficando abandonado à própria sorte.
A própria palavra inclusão só pode ser usada em um contexto onde a exclusão existe, ou então não seria necessária. É difícil para nós saber que há pessoas que não têm o básico para viver, como energia elétrica, aparelho refrigerador ou comida todos os dias. Não dispõe da mesma oportunidade de receber educação formal, e quando esta é  oferecida pelas escolas públicas, que primam pela quantidade de vagas oferecidas e pecam pela qualidade do ensino, seus alunos são fatalmente relegados a uma educação deficiente que os excluem totalmente de um processo seletivo no qual disputam vagas com alunos oriundos de colégios particulares, onde os discursos são menos calorosos e os resultados são mais evidentes.
Dentro do processo de inclusão digital a visão não é diferente. Há investimentos pesados visando contribuir para que todos os brasileiros consigam computadores e internet, assim como outros equipamentos eletrônicos. A necessidade de saber manusear estes aparelhos e lidar com as novas tecnologias se faz presente a cada dia. O número de pessoas que utilizam aparelhos celulares ultrapassou os 200 milhões no Brasil, não apenas pelo uso relacionado à tecnologia, mas também pelos recursos atrativos que os aparelhos oferecem, como câmera fotográfica, mp3 e mp4 players, armazenamento de dados, acesso à internet e etc. O problema gerado por tudo isso é conseguir aliar a qualidade dos recursos disponíveis a preços cada vez mais acessíveis a um processo educacional efetivo. Por um lado, podemos acompanhar a contribuição dada por pessoas, testemunhas oculares de fatos e notícas que cedem as imagens produzidas por elas para jornais de tv e internet, compartilhando a informação de maneira cada vez mais impessoal e livre dos interesses da minoria dominante por trás da tv, por outro lado, foi necessário que o governo instituísse uma lei federal proibindo o uso de aparelhos celulares nas escolas. É absurdo que a escola não tenha se adaptado às novas tecnologias musicais e que não consiga utilizá-las a seu favor, pois esbarra não só na capacitação dos profissionais que lá trabalham, mas também na escassez de recursos e estrutura de que dispõe, mas mais absurdo ainda é esta escola e os poucos recursos que mantém, tentar levar um conhecimento a um aluno e tentar envolvê-lo em um processo de ensino-aprendizagem enquanto ele, em desprezo à importância deste ato, prefere falar ao telefone com seus amigos, jogar, ouvir música, etc. Diga-se de passagem, no Japão é considerado falta de educação atender ligações no metrô ou em qualquer espaço público.
Conclui-se que não basta apenas investir em inclusão digital como pretexto para elaboração de um marketing pessoal e partidário espetacular. Para que as pessoas façam um bom uso das tecnologias digitais disponíveis, é necessário que se invista de maneira consistente em educação e então todas as ferramentas acessíveis hoje aos brasileiros serão utilizadas com mais objetividade e a informação possa assim constituir-se em efetivo aprendizado.

Referências: